quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

QUANDO NÃO SONHAMOS MAIS, OUTROS SONHOS DEIXAM DE EXISTIR!


Acordei assustado nessa madrugada. Sei que não era pesadelo ou sensação de mal estar, mas percebi que alguém estava invadindo meus sonhos. Sem cerimônias, um senhor misterioso com roupas reluzentes fixou seu olhar em minha direção e parou próximo a janela do quarto - era “O Senhor dos Sonhos”. Já ouvi falar sobre sua existência; ainda quando criança li uma história que retratava esse estranho personagem, porém naquele momento ele estava diante de mim. Segundo ele, dizia estar profundamente magoado e entristecido comigo por eu não cumprir o que determina o terceiro mandamento do Livro Mágico que toda criança recebe ao nascer. Consta no livro que a criança, ao crescer e se tornar adulta, se deixar de acreditar e sonhar, o sábio ancião poderia invadir a noite e retirar definitivamente “o sonho” daqueles que descumprissem, e, dormir seria apenas fechar os olhos, sem abri-los para o mundo dos desejos e das emoções, capazes de motivar à vida. Seria, assim, um imenso vazio, onde a imaginação e a realidade se distanciariam; dia e noite não se encontrariam mais e o sonhos da vida seriam anulados. No entanto, vendo minha inquietante angústia e lágrimas nas mãos, o poderoso sábio sucumbiu. Ele analisou o arquivo e percebeu que caso os meus sonhos fossem interrompidos, outros sonhos deixariam de existir – ele pensou, colocou a mão na face abaixada e disse: “- Vejo que há sonhos lindos, tantos, muitos... e observo que esses sonhos dão vida a outras pessoas (suspirou, levantou a face). Você terá uma nova chance! Mas não desperdice!” Sem permitir que eu dissesse algo, não se despediu e partiu. Agarrei ao meu travesseiro, confidenciei alguns segredos, como sempre fazia. Era no aconchego daquela serena almofada que era vencido pelo cansaço e repousava. Era preciso dormir e sonhar, mesmo sabendo que não me recordaria de alguns sonhos na manhã seguinte ou até hesitaria se realmente existiram...Só sei que sonhei... Passaram-se as horas, logo veio outra hora. Acordei com o incômodo barulho do despertador. Levantei apressado e ainda sonolento consegui me vestir e dirigir até o trabalho, cerca de 15 minutos de casa. Cheguei saudando uma colega num gostoso abraço que foi desconsertado no bom dia mau humorado costumeiramente dito pelo meu chefe. Sexta feira sempre foi um dia agitado para mim: reuniões, planilhas, pilhas de documentos para revisão, telefonemas... Pausa, por favor! Segurando o café frio, após uma sabatina de um sócio, cliquei em vinte e tantas páginas no meu notebook, mas foi acessando o jornal que me atentei à leitura. A capa estampava “Sonho invadido: pai procura menino soterrado” com a reportagem que descrevia o trabalhador que procurava esperançoso encontrar seu filho, vítima do deslizamento de terras provocado pelas fortes chuvas da região, enquanto dormia na noite de quinta-feira. O repórter acompanhou o drama do pai que se recusava a sair dali e tentava auxiliar a equipe de resgate a encontrar seu filho. “Ele é um menino alegre, cheio de vida... Sei que ele vai sair dessa! Ele é tudo pra mim. Ele sonha ter uma grande oficina de carros. Todos os dias, volta da escola e traz minha comida, passa a tarde aqui, adora se sujar com a graxa e dizer: Papai, já arrumei o motor!” Emocionado, disse o mecânico, sem ousar acreditar no pior. Naquele momento não consegui mais me concentrar no trabalho. Levantei e disfarçadamente sentei no jardim do edifício. Primeiro o “Senhor dos Sonhos”, depois essa história que me abalou. As histórias eram diferentes, mas percebi que as semelhanças as tornavam “diferentemente” iguais. Não podemos deixar de sonhar, nem sempre temos uma segunda chance para descansar e esperar pelos sonhos – eles podem ser invadidos. Quando deixamos de sonhar, outros sonhos também poderão morrer...

Autoria: (Tempo de sonhos – Tom) https://www.facebook.com/profile.php?id=1027464277

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